Comunidade do Campo de Brejinho, Distrito de São Geraldo, se prepara para candidatura ao Certificado de Remanescente de Quilombos e surpreende com a exuberância de elementos tradicionais ainda vivos em seu seio.

No dia 27 de julho de 2021, o Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural de Coração de Jesus e a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, representados pela Conselheira Érika Karine de Almeida e pelos Conselheiros Eduardo Nogueira Melo e Gilberto Aparecido Soares Medeiros (Secretário de Cultura e Turismo do Município), fizeram-se presentes na Comunidade do Campo de Brejinho, Distrito de São Geraldo, a convite dos líderes locais, para participar de reunião a fim de apoiar a comunidade nos esclarecimentos das atividades a cerca da candidatura da mesma ao certificado de Comunidade Remanescente de Quilombos. O diálogo entre a comunidade, o COMPAC e a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo teve início no mês de abril deste ano. Deste então, a comunidade vem se mobilizando a fim de se candidatar à certificação.

Os Conselheiros e Conselheira identificaram na comunidade um ambiente extremamente favorável para a candidatura à certificação. Trata-se de uma constituição comunitária que tem preservado elementos fundamentais de origem quilombola visíveis a olho nu, como casas antigas de taipa (enchimento, como são conhecidas popularmente) e adobe, cobertas por telhas comuns; vales divisores de territórios abertos por mãos escravas; partes importantes de uma “cerca” de pedra calcária levantada por antecedentes escravos. Além desses elementos arqueológicos, a comunidade conta com personagens importantes cuja memória e práticas laborais são as tradicionais, como o Sr. Nascimento, que, em um momento da reunião, disse: “Hoje estou me sentindo tão importante como todo mundo!”, ao ser lembrado da importância do seu ofício como artesão de balaios e peneiras de taboca e bambu, pilões e mãos de pilão de madeira e tecedor de redes e tarrafas de pesca, ofícios raros atualmente. A Sa. Dilma, funcionária pública e líder religiosa da comunidade, que mantém as atividades de fiandeira, tecedeira de esteira de palha de buriti e enfeites de folhas de coquinho azedo, atividades que mescla com maestria à produção da arte moderna do tricô. Os Srs. Gilson e Valdeci, produtores de gamelas de madeira e colheres de pau e o Sr. Luiz, que também produz balaios de bambu e outros instrumentos da cultura local.

Impressiona a firmeza das gerações mais jovens que mantém as tradições recebidas de seus antepassados, como as jovens mulheres e esposas Leidiane, Rejane, Josiane e Ângela Marcia que, mesmo com todo o acesso a elementos modernos, como fogões a gás, geladeiras e celulares, produzem adobes para suas cozinhas, optando por esse elemento invés de tijolos perfurados e outros. Essas jovens também mantém viva a cultura das festas populares, como as festas juninas e, junto com a comunidade, mantém um dos elementos da tradição religiosa regional praticamente extinto: o Terço Cantado.

Além desses elementos da cultura material e imaterial, sobressaem ainda as comidas típicas na alimentação: frango caipira, bolo cabo de machado, biscoitos de goma de mandioca e erva doce, bolo de fubá, beiju de mandioca, farinha de mandioca entre vários outros, e o uso diário de instrumentos da cultura local, como cuias de cabaça, gamelas de madeira, fogão de lenha, pilões de madeira, balaio e peneiras de taboca entre muitos outros.

A comunidade conta com uma igreja católica, que está passando por ampliações e reformas, com uma Escola Municipal de Ensino Fundamental I e com uma Associação de Moradores que atendem, além do núcleo comunitário local, as regiões de Barroca Funda e Pontal, todas integrantes da Comunidade Brejinho.

A participação do COMPAC e da SMCT deu-se especialmente no esclarecimento dos elementos que ainda não haviam sido compreendidos por algumas pessoas na comunidade, ressaltando as orientações já passadas na reunião de abril com os líderes locais e que vêm sendo debatidas entre eles e os demais integrantes da comunidade. Durante a conversa foi possível observar a empolgação das pessoas e a importância que estão dando ao processo que, muito para além da certificação, resgata a memória cultural comunitária, cujas raízes estão fundadas nas centenas de anos de trabalho dos seus antepassados.

Os líderes Comunitários locais tem-se empenhado na tarefa do diálogo com a comunidade nesse processo de resgate e fomento da cultura de origem remanescente de quilombo, cujos efeitos positivos podem ser observados na grande quantidade de elementos que se tornam visíveis a cada dia e no grande interesse de todos em conquistar para a comunidade o certificado de auto declaração de Remanescente de Quilombos. Para todos os efeitos, “Nós já nos chamamos de quilombolas”, enfatiza as jovens Leidine e Rejane.

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Fonte: Secretaria Municipal de Cultura e Turismo

Data de publicação: 04/08/2021

Créditos: Gilberto Medeiros

Créditos das Fotos: Gilberto Medeiros; Ricardo Santos; Leidiane Santos

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